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Brasil x Coreia

  • Foto do escritor: Yasmin Santos
    Yasmin Santos
  • 2 de out. de 2019
  • 9 min de leitura

Atualizado: 17 de dez. de 2019

Dois países divididos por milhares de quilômetros possuem muitas diferenças, sendo a cultura a principal distinção


Imagem da capa. Ilustração: Yasmin Santos

“Todo asiático é Nerd”, “Asiáticos são pessoas frias”, “Coreanos comem carne de cachorro”...

Com certeza em algum momento da sua vida você já escutou, ou talvez, até mesmo, já falou algum desses estereótipos, por falta de informação, ou por ser algo bem comum que é espalhado por aí, certo?


Distância entre Brasil e Coreia. Imagem editada no PicsArt

O Brasil e a Coreia são países que ficam no extremo oposto do globo terrestre e, apenas pela distância de 17.399 km, já é possível imaginar que a cultura desses dois povos teriam algumas diferenças. Como ressaltaram Vinícius Maister e Camila Milani, ambos já viajaram para a Coreia do Sul











Como os países possuem uma distância muito grande entre eles, é normal que aqui no Brasil não tenhamos tanta informação sobre a Coreia do Sul, da mesma forma que, talvez os coreanos não saibam sobre nossos costumes, mas isso não se dá apenas pela distância, existem relações políticas envolvidas.


Segundo o professor de geopolítica da Universidade Federal de Goiás (UFG) Dr. Romualdo Pessoa, essa questão é na verdade bem antiga, e tem relação com a Guerra Fria, em que a Coreia do Sul se aliou aos Estados Unidos, e a Coreia do Norte à União Soviética.


Desta forma a Coreia do Sul passou a ser comandada pelos EUA, o que dificultou a relação com outros países ocidentais e somado à esse relacionamento, o grande crescimento da China “atrapalhou” o crescimento da Coreia do Sul em relação aos países ocidentais.


“Os laços, pegando especificamente o Brasil, não foram estabelecidos muito fortemente primeiro por causa dessa tutela com os Estados Unidos, e segundo por causa dessa influência que a China passou a ganhar [...] A Coreia do Sul na década de 90 era bastante conhecida por seus avanços tecnológicos [...], porém a China passou a superar isso”, afirma o professor Romualdo.

Ao pegar experiências de pessoas que, mesmo sem muito contato com a Coreia do Sul, possuem um interesse grande pela cultura do país, ainda sim, é perceptível uma falta de conhecimento, como foi citado por Camila Milani, que já tinha uma paixão pela Coreia do Sul e foi até o país para fazer o seu TCC, onde vivenciou um pouco da cultura asiática.


Estereótipos criados


Como no exemplo já citado no início do texto, antigamente, os sul coreanos tinham sim o costume de comer carne de cachorro, como parte de sua cultura, como é relatado pela revista Veja em seu artigo:


“O consumo de carne de cachorro ou ‘Kaegogi’ na Coreia do Sul é uma tradição de milhares de anos e se pratica de forma ocasional por ser um prato relativamente caro (de R$ 25 a R$ 40 por pessoa) e só disponível em restaurantes especializados.”


Porém, como relata a blogger Helena, do canal Coreaníssima, principalmente por conta de uma má fama que os coreanos tinham internacionalmente por esse feito, e até mesmo por mudanças nos pensamentos dos jovens desta geração, quase já não existe mais esse hábito.


Como foi relatado pela Helena os coreanos realmente se preocupam muito com a imagem que os estrangeiros têm deles e, ainda segundo ela, um país que até nos dias atuais come carne de cachorro é taxado como um local que não se desenvolveu e é atrasado.


Pessoas que já foram para a Coreia do Sul afirmam, com total confiança, que a cultura do país asiático é completamente diferente da brasileira, em especial na questão da coletividade, e no valor das relações com o próximo. Diferente do que muitos pensam, as pessoas na Coreia do Sul, por mais que não gostem muito de contato físico e tenham uma hierarquia de respeito com os mais velhos e mais experientes (confucionismo) bem acentuado, eles não são tão frios como são taxados.


Em uma conversa com Vitor Ventura, Jornalista esportivo que foi para a Coreia do Sul à trabalho e por 35 dias pode vivenciar a cultura dos sul-coreanos, podemos perceber esta questão, de preocupação com o próximo, e de fazer o bem para beneficiar não só a si mesmo, mas a todos:



E vemos essa mesma disposição de ajudar, que os coreanos têm, no relato de Camila, onde ela conta como foi ajudada por uma mulher, que nem a conhecia, mas fez seu melhor para que ela pudesse chegar no hotel em que ficaria, e também no complemento que Vitor faz sobre sua experiência no país.


"Minha experiência na Coreia do Sul foi muito boa, eu senti que os coreanos eles tentam te ajudar, vendo que você é ocidental, eles tentam te ajudar a se encontrar, uma coisa que eu até perdi um pouco de preconceito com a Coreia, é que eu achava que eles não eram muito 'ocidentalizados', mas no sentido de que, por exemplo, você é um ocidental e vai para a Coreia, você não consegue se achar ... não, não é assim", explica Vitor Ventura.

Mas as diferenças não são visíveis apenas em questões de educação, elas entram também em tópicos como política, relações sociais e questão linguística. Ao contrário do imaginário criado de que, pelo fato de todos os asiáticos serem inteligentes, todos falarem inglês, não é bem assim – na verdade, com exceção da capital, Seul, é bem difícil encontrar coreanos que falem inglês, mesmo que seja apenas para ajudar um imigrante recém-chegado ao país.



Outro ponto perceptível, é o simples fato de andar pelas ruas. Na Coreia do Sul, você não precisa se preocupar ao sair sozinho se estiver muito tarde, ou ter que esconder o celular com medo de ser roubado. Segundo a Numbeo um compilador de base de dados colaborativa sobre cidades e países do mundo, no continente asiático, a segurança permite que você faça isso sem medo, já que a estatística de criminalidade é muito baixa.


Fonte: Captura de Tela. Numbeo - Crime em Seul, atualizado em setembro de 2019.


Avenida de Busan durante a madrugada. Foto: Vitor Ventura

“Não tem nada mais gostoso, ainda mais para nós que somos do Brasil, do que poder andar na rua duas, três horas da manhã e estar com o celular na mão, ou nem isso, é só poder andar na rua mesmo, independente do local e do horário [...] uma das coisas que eu mais sinto falta da Coreia do Sul é você poder andar na rua e não ter medo, sabe?”, declarou Vitor Ventura com um tom de nostalgia.

Avenida de Busan durante a madrugada. Foto: Vitor Ventura

O segundo ponto é um tema muito recorrente no Brasil, que é o fato das pessoas em situação de rua. Em nosso país é comum ver a precariedade e as dificuldades que as pessoas em situação de rua enfrentam, além da repressão como é mostrado no site Politize!:


“Uma situação recorrente para pessoas em situação de rua é o despejo, seja de um prédio abandonado, seja de uma praça ou debaixo de uma marquise. Além disso, um problema grave é o inverno rigoroso nas cidades: são muitos casos de pessoas em situação de rua que morrem por conta das ondas de frio. Na gestão de Fernando Haddad, houve também reclamações a respeito dos Guardas Municipais que confiscaram colchões e papelões das pessoas em situação de rua que já estavam vulneráveis às baixas temperaturas.”


Porém, como relatou Camila durante sua fala, em diversas regiões da Coreia do Sul quase não se encontra nenhuma pessoa em situação de rua, e as poucas que se encontram, não vivem em uma precariedade tão grande assim, como é visto aqui no Brasil, tendo suas roupas, e seus objetos pessoais, ainda em bom estado, pois a população é solidária e sempre tende à ajudar.


“Em Seul, que foi onde eu fiquei, eu vi uma única pessoa em situação de rua e ela não vivia em um estado tão precário quanto aqui no Brasil, sabe?”, ressaltou Camila Milani impressionada.

Porém, não é possível generalizar, segundo o professor Romualdo, em qualquer lugar que se tenha um sistema econômico capitalista, existe sim uma desigualdade social, a diferença está em como a população trata as pessoas em situação de rua.


“Eles [os coreanos] tem uma cultura de preocupação com aqueles que vivem na pobreza, nos países orientais existe mais dessa preocupação [...] a questão de você ir em um lugar é relativo, você pode, por exemplo, ir em São Paulo em um jardim e não ver nenhum morador de rua, depende muito do lugar onde você vá. A desigualdade no capitalismo existe em praticamente todos os lugares [...] claro, tem alguns países que se preocupam mais com essa população [em situação de rua], mas mesmo assim têm", comenta o professor de geopolítica.

Um país sem defeitos?


Por questões como estas, é possível dizer que é difícil encontrar um local em que tudo funcione perfeitamente bem e não tenha seus problemas, por isso não podemos deixar de relatar que, como em qualquer outro canto do mundo, a Coreia do Sul também possui seus pontos negativos. Até nos dias atuais, o modelo patriarcal e machista, ainda é muito marcante, percebe-se isso na matéria do portal K4US, e pelo vídeo da Blogger Yunmi, uma coreana que conta sobre sua própria experiência no país.


“O machismo está presente na maioria dos países, isso é fato. Na Coreia (não é diferente), ser mulher é realmente muito difícil. [...] Na visão da família tradicional coreana, o dever da mulher é cuidar das tarefas de casa (lavar louça, cozinhar, limpar e etc). Como consequência desse machismo forte, as mulheres sofrem violência doméstica e são totalmente desrespeitadas, tratadas como objeto. Pouquíssimos casos de violência são reportados à alguma autoridade. Na Coreia, ainda se vê a violência doméstica e sexual como algo pessoal e as políticas de prevenção e proteção às vítimas não são bem aplicadas.”


Isso sem contar com a questão da insatisfação com os estrangeiros, que muitas vezes é intensa por conta de seu grande nacionalismo, presente nos coreanos, como podemos ver no relato de Amanda Gomes da plataforma colaborativa Brasileiras Pelo Mundo:


“Os brancos de países de primeiro mundo são vistos e tratados de forma diferente dos de pele mais escura e de países mais pobres, infelizmente. Sei que existe o preconceito racial no mundo todo, mas enfatizo aqui porque os coreanos não o ‘escondem’ ou se esforçam para mudar isso.”


"Culinária exótica"


Como podemos perceber, as diferenças são inúmeras em tópicos diversos, e claro que não poderíamos deixar de falar na culinária, afinal, outro estereótipo criado é do tipo de comida que os coreanos comem.


No início do ano, virou notícia até mesmo na Coreia do Sul, um vídeo no qual um casal brasileiro fala sobre a comida de um restaurante, porém de forma estereotipada, na qual utilizam informações erradas falando sobre um “suco de larvas” – que na verdade, não é nada mais que uma bebida tradicional doce, feita de arroz e chamada de Sikhye – e também fazem piada sobre a língua coreana e com a carne vendida no local, como podemos notar no vídeo:


Depois disso, eles tiveram que se desculpar, porém o fato já tinha repercutido, afinal, chegou até mesmo à passar no telejornal do canal de TV coreano KBS, que é uma emissora aberta, e muitos brasileiros se sentiram desconfortáveis com a atitude do casal e pediram desculpas em nome deles, até mesmo autoridades políticas brasileiras se desculparam.


Podemos acompanhar essas desculpas no vídeo do canal Klap Corea, em que dois coreanos assistem a reportagem que passou na KBS e fazem comentários à respeito. Na parte superior do vídeo podemos encontrar legendas da reportagem que ambos assistem.



Mas para quebrar com esse estereótipo de comidas exóticas podemos dizer que a Coreia do Sul possui um cardápio bastante variado e, apesar de seu condimento picante estar presente na maioria dos pratos, eles possuem comidas para todo tipo de gosto. Mesmo quem não quer comer os pratos tradicionais pode encontrar fast foods com facilidade.



Apatia ou Respeito?


Na Coreia do Sul, até mesmo a forma com que você se dirige à outras pessoas é necessário um certo grau de respeito, se você já viu algum filme, novela coreana, ou até mesmo uma reportagem em noticiários, pôde perceber que os coreanos fazem uma reverência para cumprimentar os mais velhos, algumas delas são tão acentuadas que o corpo da pessoa chega a se curvar 90º.

Reverência 45º. Foto: Ola Hangeul

Até mesmo na hora de fazer um pagamento é necessário um maior respeito com quem estiver atrás do balcão, para os coreanos apenas entregar de qualquer forma o seu dinheiro ou cartão é considerado desrespeito.

"Outro detalhe básico do dia a dia que demonstra como eles são preocupados com essa coisa de educação e de mostrar respeito, [...] você entrega o cartão ou dinheiro, com as duas mãos ou com uma mão apoiada sobre a outra, e faz até mesmo uma mini-reverência para a pessoa, isso é uma forma de respeito que eu até vivi lá." Camila Milani explicou ao descrever uma situação que viveu na Coreia do Sul com seu pai

São tantas diferenças que não caberiam todas em um texto apenas, então se pretende ir à Coreia so Sul, busque se informar um pouco sobre como as coisas se dão no local, e para quem não sabe por onde começar a pesquisar, aqui vão algumas dicas dadas pelos entrevistados:


  1. Faça uma escala 24 horas em outro país durante a viagem;

  2. Aprenda algumas expressões essenciais em coreano;

  3. Tenha a mente e o paladar abertos para novas culturas e experiências;

  4. Conheça ao menos um pouco sobre a cultura antes de ir;

  5. Se prepare financeiramente.















Sobre os Entrevistados

Vitor Capella Ventura

Vitor Augusto Capella Ventura

Vitor Ventura é Jornalista esportivo, tem 25 anos e trabalha na área de esportes eletrônicos. Sua principal motivação para ir para a Coreia do Sul em Outubro e Novembro de 2018, foi justamente seu trabalho, pois nesse período estava acontecendo o campeonato Mundial de League of Legends. Vitor aproveitou a oportunidade de cobrir o Mundial e passou no total 35 dias na Coreia, além de 5 dias no Japão



Camila Alonso Milani


Camila Alonso Milani

Camila Milani é Jornalista e tem 23 anos. O que a motivou a fazer sua viagem para a Coreia do Sul foi que durante sua graduação, o Trabalho de Conclusão de Curso, tinha como tema “A importância do K-pop para a Coreia do Sul”, e ela aproveitou a oportunidade e foi até o país para fazer um documentário, e a cobertura no local, por durante 10 dias.






Vinícius Maister

Vinícius Maister

Vinícius Maister é Publicitário, tem 24 anos e foi para a Coreia movido por duas paixões: aprender coisas novas e o amor pelo K-pop. Vinícius passou 30 dias na Coreia em uma escola de línguas chamada Educacional First - EF que reúne alunos de intercâmbio de diversas nacionalidades.






Dr. Romualdo Pessoa Campos Filho

Dr. Romualdo Pessoa Campus Filho


Possui graduação em História pela Universidade Federal de Goiás (1988), mestrado em História pela Universidade Federal de Goiás (1995) e doutorado em Geografia também pela UFG (2013). Desde 1995 é professor da Universidade Federal de Goiás.







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