Um olhar para a Política Coreana
- Yasmin Santos
- 29 de out. de 2019
- 5 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2019
Questões políticas e econômicas que formaram a Coreia do Sul, como é conhecida nos dias atuais
A Coreia do Sul é um país muito conhecido pelas relações fortes que mantém até os dias atuais com sua cultura e tradição milenares. Quando se trata de costumes o país ainda é considerado fechado para outros povos por isso fazer parte de sua identidade, porém ele tem sim uma abertura para a globalização.
Segundo o professor de Geopolítica da Universidade Federal de Goiás, Romualdo Pessoa Campos Filho, parte dessa tradição, de certa forma ainda é mantida por uma questão econômica. Isso porque um dos principais atrativos do país para seu turismo é a presença marcante de seus costumes.
De acordo com o professor, essa capitalização veio de uma longa história, na qual a Coreia ficou sob tutela dos Estados Unidos, após um apoio na Guerra das Coreias.
Uma História de Guerras
Em sua história, a Península Coreana sempre esteve em uma posição estratégica complexa, tendo de um lado a China e do outro parte da Rússia, além da divisão no paralelo 38 entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Essa divisão ocorreu após o fim da Segunda Guerra Mundial, e levou a um novo conflito – a Guerra da Coreia – em que os EUA tiveram uma grande influência, como afirmou Romualdo.
“Você tem de um lado uma Coreia [do norte] que antigamente tinha uma relação com a União Soviética e que tem hoje uma relação muito forte com a China, e do outro lado a Coreia do Sul que tem uma relação amistosa com os EUA, não só amistosa, ela também faz parte do interesse estratégico dos Estados Unidos que quer ter controle daquela região”, explicou o professor.
Essa disputa entre as Coreias, foi o conflito inicial que deu um começo à Guerra Fria. Porém, apesar desta guerra ter chegado ao fim, na península coreana, nunca houve um acordo de paz, segundo o livro Fatos Sobre a Coreia, publicado pelo Serviço de Cultura e Informação sobre a Coreia.
Entretanto, com o passar do tempo a hostilidade começou a se dissolver lentamente. Ainda sobre o livro, em 4 de julho de 1972, as duas Coreias anunciaram o Comunicado Conjunto. Com ele, foi realizado os diálogos e intercâmbios, através do Comitê de Coordenação Sul e Norte e da Cruz vermelha, que funcionou como uma "trégua". Hoje em dia, pode-se dizer que houve um acordo de paz, após o encontro dos presidentes na Zona Desmilitarizada que aconteceu em 2018.
Com todos esses conflitos, as Coreias tiveram um grande distanciamento dos países ocidentais, conforme Romualdo Filho. A Coreia do Sul teve um afastamento menor que a do Norte, pois adotou um sistema capitalista, seguindo os passos do desenvolvimento social dos Estados Unidos.
Porém, justamente por conta dessa proximidade que os EUA tinham com o país sul coreano, ele não teve liberdade para expandir suas relações com outros países ocidentais.
Relação com o Exterior
Apesar de não ter tantas relações com outros países ocidentais, após a Guerra a República da Coreia (Coreia do Sul) ainda dependia bastante de ajuda externa, segundo o Fatos Sobre a Coreia, essa dependência causava desavenças com outros países por conta do desequilíbrio comercial.
Porém, com o passar do tempo essa sujeição que o país asiático tinha com outros, como o Japão, EUA e a União Europeia reduziu, ao mesmo tempo em que o comércio com países em desenvolvimento aumentou.
Depois de certo tempo, na década de 90, o comércio coreano começou a alavancar, principalmente nos Estados Unidos, quando a indústria mobilística ocupou um grande espaço, sobrepondo-se até mesmo ao comércio da China.
Segundo o professor de Geopolítica, isso se deu graças ao período conhecido como avanço dos Tigres Asiáticos, em que a Coreia, junto com outros três países asiáticos que alcançaram um acelerado desenvolvimento industrial e econômico. Mas ainda sim, a China não se deixou ficar para trás e voltou a comandar.
Sobre a relação entre a Coreia do Sul e do Norte nos dias atuais, existem turbulências que são afetadas pela atmosfera internacional em constante mudança, como cita o livro. Porém, de acordo com o professor de Geopolítica, uma unificação entre os dois países não é uma opção para os Estados Unidos.
Analisando de uma forma estratégica e geopolítica, segundo o professor, não iria valer a pena para os Estados Unidos uma aliança entre as duas Coreias. A China ainda tem uma relação amistosa com o norte da Coreia. Assim, em uma eventual união, ainda haveria um grau de influência muito presente da China. Além disso, os dois países (EUA e China) ainda têm uma disputa política grande, que não iria permitir a união.
Coreia e o Brasil
A história do Brasil com a Coreia teve início em 1960, com os primeiros imigrantes coreanos que chegaram no país, segundo dados de 1991, citados no livo Além do Arco-íris: a imigração coreana no Brasil, de Keum Joa Choi. Esses mesmos dados mostram que o Brasil está em terceiro lugar entre os países que mais recebem imigrantes coreanos.
Segundo Keum “[...] só após a Guerra da Coréia (1950-1953) e, sobretudo, depois da Revolução Militar (1961), foi que os governantes adotaram uma política emigratória no país, visando diminuir a concentração demográfica e os conflitos sociais muito frequentes.” – página 234
O professor Romualdo explica que existem três pontos principais que motivam uma saída em massa de um país para outro: guerras, crises econômicas e crises ambientais, como a escassez de água, por exemplo, e esses imigrantes vão em busca de um país que esteja afastado desses conflitos, para que possam começar a vida novamente.
Por conta desses motivos que levaram o povo coreano a migrar para outros países - entre eles ao Brasil - houve uma certa aproximação da cultura coreana com a brasileira. Em São Paulo, por exemplo, o bairro Bom Retiro é conhecido como o bairro dos coreanos. De acordo com o livro O Bom Retiro dos Coreanos: descrição de um enclave étnico de Jung Yun Chi:
“Segundo a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Coreia, cerca de 19 mil coreanos, ou seja, 40% dos coreanos que viviam em São Paulo, já moravam no Bom Retiro em 2002. [...] Alí se havia formado um novo enclave dos coreanos que ofereca uma diversidade econômica nunca vista de comércio e serviços destinados para a própria colônia, e essa diversidade econômica tem uma relação muito íntima com as diferenças sociais que surgiram em decorrência da situação econômica dos anos 90.” – página 91
Apesar de a migração de japoneses para o Brasil ser bem maior, por terem buscado uma aproximação com países ocidentais desde o século 19, quando fizeram a revolução capitalista, ainda é preciso levar em conta a migração Coreana.
Mesmo que em números a diferença seja grande, em questões culturais, ainda há uma grande relevância. Basta dar uma olhada no “bairro coreano” em São Paulo: segundo o livro de Jung, em 2011, 40% da indústria têxtil do Brasil era gerenciada por coreanos.
Em 1959, o Brasil e a Coreia estabeleceram relações diplomáticas. E este ano, houve a celebração dos 60 anos das relações diplomáticas entre os dois países, e a Embaixada Coreana esteve presente para participar da comemoração.
Vídeo Feito pela Embaixada da Coreia no Brasil, do encontro para a comemoração dos 60 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Coreia do Sul.
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