Tae(태) Kwon(권) Do(도). “O caminho dos pés e das mãos através da mente”
- Yasmin Santos
- 19 de out. de 2019
- 7 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2019
O esporte coreano que leva jovens brasileiros às competições mundiais.
O Taekwondo é um esporte milenar, nascido na Coreia há aproximadamente 2000 anos, usado inicialmente como uma forma de defesa pessoal e hoje um esporte mundialmente conhecido, para competições e apresentações.
Segundo o site BestSports DataBase, o último Campeonato Mundial de Taekwondo aconteceu em maio de 2019 na Inglaterra, classificando a Coreia como campeã e o Brasil, que levou para casa cinco medalhas no total (2 de prata e 3 de bronze), ficou em décimo primeiro. O próximo campeonato está marcado para acontecer em 2021 em Wuxi, na China.
Que o Taekwondo (TKD) é um esporte conhecido é fácil saber. De acordo com o livro Fatos Sobre a Coreia, publicado pelo Serviço de Cultura e Informação sobre a Coreia, o Taekwondo já é um esporte reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, e foi escolhido como um esporte de demonstração nos Jogos Olímpicos desde 1988, tornando-se oficial em 2000, há quase 20 anos atrás. Mas o que exatamente é esse esporte e como é sua história? Vamos dar uma olhada em seus significados.
“O principal significado do Taekwondo é ‘Tae’ - pé, que simboliza as técnicas dos pés, ‘Kwon’ - mão, que simboliza as técnicas com as mãos e ‘Do’ - caminho espiritual ou caminho da mente, essa é a junção que faz do Taekwondo um esporte de autodisciplina que significa o caminho dos pés e das mãos através da mente”, explica o Grão Mestre Sobrinho.
O Grão Mestre Sobrinho, oito vezes campeão brasileiro em competições mundiais e na Coreia, foi o introdutor dessa arte marcial no estado de Goiás e em Brasília. Ele possui um grande reconhecimento por ter sido um dos primeiros mestres faixa preta no Brasil, no início da década de 70.
Além de ter formado mais de 500 alunos brasileiros faixa preta, foi também o único brasileiro a ir para a Coreia ensinar o esporte para nativos.
“Fui o único a dar aula na Coreia… dei aula e morei lá por três anos, então além de aprender com coreanos eu ensinei para coreanos”, terminou a frase com risadas, feliz por sua conquista pessoal.
O início do Taekwondo
O Taekwondo, de início, quando foi idealizado não era considerado um esporte, mas sim uma forma de combate, luta de defesa pessoal. Nesse sentido, seu objetivo pode ser ligado ao da Capoeira, criada no Brasil por escravos para se defenderem.
Durante a época dos reinados, a Coreia era subdividida em três povoados Goguryo, Baekje e Silla. O povoado de Silla era o menor e o menos desenvolvido de todos os três, por isso os povoados maiores aproveitavam da pouca resistência que encontravam e faziam saques.
Porém ao longo do tempo, Silla desenvolveu uma classe militar formada por jovens guerreiros que se chamavam Hwarang, para defender o povoado.
“Eles se tornaram temidos, pois na época faziam treinamentos em montanhas, na época do inverno eles nadavam nos rios gelados, treinavam em cavalos com arco e flechas, mas o principal, era o corpo a corpo, eles usavam muitos chutes como autodefesa, e era um treinamento que os outros não tinham. Por isso até hoje os Hwarangs são lembrados e fazem parte da história do Taekwondo”, conta Sobrinho com um tom de respeito em sua voz.
Como o Taekwondo, antigamente, era uma luta fechada usada apenas pelo exército nas guerras e batalhas, não haviam regras, e as habilidades dessa luta eram mantidas em segredo apenas entre os coreanos. Já nos tempos atuais o TKD passou a ser divulgado com o intuito de oficializá-lo como um esporte mundialmente conhecido, com participação nos jogos olímpicos e mundiais.
Características, Regras e Equipamentos
A principal característica do Taekwondo está concentrada nos ataques de pés, segundo o Grão Mestre Sobrinho. Nas competições, as técnicas de mão atingem apenas 20% de uso, enquanto os chutes totalizam 80% das técnicas.
Os taekwondistas mais antigos eram conhecidos como os “homens voadores” por conta das técnicas de chutes altos, em que conseguiam atingir até mesmo quatro alvos no ar em um único pulo.
“O segredo de tudo isso é a disciplina, né? De ‘querer é poder’, de superação… e muito treinamento, porque a gente prima pelo Taekwondo, que o Taekwondista para ser completo o principal que ele tem que ter é humildade, para ele poder aprender, superar… superar até mesmo seus momentos de fracasso de dificuldades e de se reinventar para se superar.”, responde o Grão Mestre quando questionado sobre o segredo para conseguir “voar”.
Analisando o Taekwondo de uma maneira mais técnica, Sobrinho explica que é obrigatório o uso do Dobok, que é o uniforme dos Taekwondistas, na cor branca que simboliza a origem do universo e que muitas vezes é confundido com o Kimono, a roupa do karatê e judô.
Suas regras para competição baseiam-se em ataques de socos ou chutes na área do tórax e na cabeça. Essas regiões são protegidas por equipamentos de uso obrigatório. O equipamento é composto por um capacete feito com borracha de silicone macia, com sensores que só podem ser tocados com o pé.
Esses sensores têm como objetivo marcar a pontuação dos ataques, e eles também estão presentes no outro equipamento de proteção, na região do tórax. A meia utilizada é específica, pois ela também contém os sensores, que ao entrarem em contato com o equipamento de proteção enviam para uma central a pontuação marcada. O Grão Mestre listou como é a questão da pontuação no TKD:

Além dessas pontuações por ataques, há também as pontuações negativas, que são marcadas quando o competidor faz alguma ação ou movimento proibido, revertendo assim o ponto para o adversário. Isso ocorre em situações como socos no rosto, segurar o adversário e chutar em partes baixas (genital e pernas), por isso Sobrinho afirma que não basta ganhar pontos, tem que se preocupar em não perdê-los também.
No Taekwondo, a área de competição é de 64 metros quadrados, consistindo em um quadrado de 8m por 8m. Se o taekwondista sair desta área, ou apenas colocar o pé para fora, também perde pontos, que são passados ao adversário.
Classificações
No Taekwondo, existem diversos níveis que são atingidos de acordo com a experiência de cada aluno. Grão Mestre Sobrinho informou que, no início a classificação é feita de uma forma decrescente, ao entrar o taekwondista é 10º Gub (faixa branca) e depois de subir as graduações, o 1º Gub é candidato à faixa preta.

Quando se tornam faixa preta, a classificação é de forma crescente, do primeiro Dan ao 10º Dan. De primeiro a terceiro Dan o taekwondista é nomeado professor (Kiosanin), de quarto Dan ao sexto Dan é considerado Mestre (Sabonin), já do sétimo Dan ao nono Dan são chamados de Kuajanin.
A graduação do décimo Dan é diferenciada por ser especial, pois ela é uma graduação de ascendência honorária.
Taekwondistas
Porém o Taekwondo não se resume apenas à sua história de criação, regras e técnicas. Essa arte marcial está muito ligada com questões de disciplina e respeito e ela carrega uma filosofia que os alunos levam para a vida pessoal, mudando até mesmo a forma de ser e agir.
“As artes marciais têm uma filosofia muito rica e sempre falam sobre superação. Eu sempre fui uma pessoa tímida, com baixa autoestima e sempre duvidei de mim. Então o Taekwondo me ajudou com tudo isso, a acreditar mais em mim. [...] Não é apenas uma luta, mas um estilo de vida. Eu aprendi muito desde que comecei a praticar o esporte. E sei que melhorei como pessoa também. Aprendi a acreditar em mim mesma, a ter mais confiança e determinação. E também aprendi a ser mais humilde e a entender que nem sempre é possível vencer. É um esporte maravilhoso!”, comenta Adele Lazarin, taekwondista faixa preta graduada no 1º Dan.

Além disso, essa arte marcial é construída em volta de uma relação em equipe, com crescimento e apoio mútuo. Os praticantes criam uma relação muito forte entre si, tanto entre alunos quanto entre alunos e professores.
“Nós acabamos virando uma família. Todos se apoiam, todos se ajudam. Todos são companheiros e participam do crescimento e melhora da equipe. Criamos um vínculo, sabe? E esse vínculo vai além do esporte e entra na vida pessoal”, explica Adele com certa emoção, ao falar de sua experiência no esporte.
Brasil no TKD
Ultimamente a representação do Brasil no Taekwondo é bastante reconhecida: entre os mais de 180 países onde o esporte é praticado, o Brasil faz parte do ranking dos 10 melhores do mundo em TKD.
“Nós temos medalhistas olímpicos aqui no Brasil, e nós temos também atletas a nível PanAmericano, SulAmericano, temos vários atletas que já conseguiram medalhas de ouro, então o Brasil está muito bem representado no internacional”, afirma Sobrinho, orgulhoso pelas conquistas que o Brasil tem em competições mundiais.
No dia 11 de outubro, em Las Vegas, nos Estados Unidos, ocorreu a President's Cup, na qual os Taekwondistas Netinho Marques, Talisca Reis e João Victor Diniz participaram representando o Brasil. João Victor voltou para casa carregando uma medalha de prata, após ficar em segundo lugar na competição, e segundo o site de notícias Diarinho, o taekwondista ainda ganhou a vaga e o direito de disputar o PanAmericano de Taekwondo em 2020.
Segundo o Grão Mestre Sobrinho os esportistas Netinho e Talisca estão praticamente com as vagas garantidas nas Olimpíadas do Japão que irão acontecer também em 2020. E esse reconhecimento pode ser atribuído ao grande incentivo que os Taekwondistas têm recebido com as Bolsas Alerta a nível estadual e municipal, além da Bolsa Pódio a nível olímpico.
Apesar de todo esse incentivo que o TKD faz nos dias atuais, com as bolsas e as participações em competições, antigamente o esporte era completamente fechado e idealizado apenas para os coreanos, mas com o passar do tempo essa cultura se expandiu e hoje é considerado um esporte mundial, como foi citado por Sobrinho.
Sobre os Entrevistados:
Grão Mestre Sobrinho
Grão Mestre introdutor do Taekwondo tanto em Goiás como em Brasília, fez parte da historia do TKD desde que ele surgiu no Brasil, há aproximadamente 50 anos atrás.
Além do Brasil, já deu aulas de Taekwondo na Coreia e também nos Estados Unidos.
Um nome super importante quando se trata de TKD no Brasil.

Adele Lazarin
Taekwondista desde 2006 (faixa preta 1º Dan) que, apesar de algumas pausas no esporte por questões pessoais, nunca deixou o amor pelo Taekwondo de lado.
Sua relação com o Taekwondo começou desde muito cedo, e segundo a esportista, ela recomenda o TKD para qualquer pessoa, uma vez que essa arte marcial fez dela, quem ela é hoje.
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